domingo, 25 de novembro de 2012

DECO vs Galp

Na passada sexta-feira a DECO revelou um estudo que esteve a realizar, na qual compara os combustíveis ditos “low-cost” com os combustíveis regulares e os combustíveis premium, na qual conclui “é igual ao litro”.
Resumidamente e segundo a pouca informação disponibilizada (http://www.igualaolitro.pt/) adquiriram 4 automóveis iguais e percorreram 12.000km durante 1 mês, utilizando 4 pilotos profissionais, alternando os diferentes pilotos pelos diferentes automóveis. Em cada um desses carros foi utilizado gasóleo adquirido em locais diferentes, nomeadamente no Intermarché, no Jumbo e na Galp (gasóleo hi-energy e gasóleo gforce). No final do teste foram medidos os consumos e verificada a acumulação de depósitos e o desgaste do “núcleo” do motor.

A Galp no mesmo dia lançou um comunicado onde responde à conclusão do estudo da DECO, referindo algumas coisas como: “Os combustíveis aditivados comercializados pelas empresas petrolíferas, em Portugal como em todo o mundo, são analisados e recomendados pelos construtores de automóveis e pelas empresas petrolíferas que, enquanto compradoras dos referidos aditivos, são as primeiras interessadas no rigor dos estudos efetuados em laboratórios especialmente credenciados nestas matérias. Os resultados destes testes exaustivos são bastante mais favoráveis do que os que foram encontrados pela Deco, não apenas em termos de poupança de combustível como de proteção e manutenção dos motores, de redução de emissões poluentes e outras.” (http://www.galpenergia.com/PT/Media/Noticias/Paginas/GalpEnergiacomentaestudodaDecosobrebenef%C3%ADciosdogasoleoaditivado.aspx ).

O estudo da DECO, apesar de ser uma boa iniciativa, peca pela falta de um relatório técnico disponível ao público, pouco rigor e uma elevada dose de populismo. Neste estudo foram utilizados 4 combustíveis em que 50% pertencem à Galp Energia e 50% aos tradicionais postos de hipermercado “low-cost”, não existindo qualquer referência a outros operadores de combustíveis regulares e premium em Portugal. Desta forma o estudo concentra-se apenas na oposição entre duas partes e não numa análise ao mercado dos combustíveis nacionais.

Do ponto de vista técnico existem alguns problemas no estudo da DECO como o já referido no comunicado da Galp Energia em que os automóveis utilizados são novos, não existindo referência às vantagens ou desvantagens do uso dos combustíveis analisados em função da idade do veículo ou do número de quilómetros realizados, onde neste ponto a Galp Energia refere que os benefícios da utilização de combustíveis aditivados aumentam com a idade do veículo. Outro dos problemas é a utilização de um único veículo e um único motor ficando o campo de aplicação do estudo excessivamente limitado, tornando-se assim impossível extrapolar as conclusões retiradas para um grande mercado de veículos automóveis que existe em Portugal.

O estudo da DECO incidiu sobre os consumos e sobre a acumulação de depósitos no motor, mas segundo a Galp Energia as vantagens do uso de combustíveis regulares e combustíveis premium vão além desses dois fatores. Alguns dos benefícios enunciados pela empresa que não se encontram analisados são a redução de emissões, melhor arranque a frio, melhor comportamento ao ralenti e supressão da formação de espuma. A proteção contra a corrosão, apesar de analisada no estudo da DECO, não é de todo uma medida onde seja possível ter dados válidos em automóveis com 1 mês e 12.000km.

O uso de aditivos nos combustíveis pode ser benéfico na utilização de um automóvel mas apenas em alguns casos e algumas situações dependendo do tipo de motor, idade e utilização. Não se deve esperar que os aditivos tornem um automóvel diferente ou que resolvam problemas do mesmo mas deve-se sim verificar no manual do veículo qual o combustível recomendado pela marca para o seu uso. A Galp Energia, no seu comunicado, refere que os aditivos foram analisados exaustivamente e recomendados por construtores automóveis, com resultados mais favoráveis que os resultados do estudo da DECO, mas não refere os estudos nem os dados concretos que fundamentam estas afirmações.

Observando os resultados da DECO uma das evidências que é possível verificar são os consumos superiores a 6.4l/100km, num automóvel com um consumo médio, segundo a marca, de 3.4l/100km e onde numa comunidade de 20 utilizadores a média é inferior a 5.5l/100km (www.spritmonitor.de). Segundo a DECO foram feitos percursos em autoestrada, via rápida e urbano, simulando aparentemente um consumo misto do veículo, mas dada a elevada média registada no estudo, poderá subentender-se uma utilização mais agressiva dos automóveis. 

A frase chave de conclusão do estudo da DECO “igual ao litro” é falsa, comprovada pelos resultados diferentes atingidos durante o estudo ao nível de consumos (únicos publicados). Os resultados poderão indicar que a redução de consumo não é a indicada pela Galp Energia, para aquele tipo de carro e idade, mas não é “igual ao litro”. Este estudo não vem introduzir mais transparência no mercado dos combustíveis nem leva a verdade aos consumidores, apenas tenta retirar conclusões generalistas através da análise de uma pequena amostra e de um pequeno número de dados técnicos.

A DECO aproveita assim a baixa de popularidade do sector petrolífero, junto da opinião pública Portuguesa, devido aos elevados preços dos combustíveis, para lançar um abaixo-assinado onde fala em alegações enganosas e práticas lesivas, que poderão ser praticadas na comercialização dos combustíveis mas também são praticadas nas conclusões deste estudo. Com este abaixo-assinado a DECO faz uma campanha de autopromoção, onde recolhe dados pessoais dos subscritores e os poderá utilizar para atrair novos associados e assim financiar todos os gastos inerentes ao estudo.

É pena que cada vez mais se utilize mais recursos na promoção de uma ideia pré-concebida do que na sua comprovação e validação técnica.

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